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sábado, 1 de dezembro de 2012

A mãe, o curso, a filha e o caos

7 comentários

Sexta-feira, 18:30. A mãe chega em casa do trabalho, apressada, com fome, pensando no curso online que começa às 19h, na filha que deve estar com fome e no marido que não anda bem de saúde e que passou a tarde cuidando da filha, pois a babá foi embora logo após o almoço, como acontece todas as sextas-feiras.

18h35, depois de um abraço gostoso, a mãe ouve do marido que a filha havia acabado de acordar, que tinha mamado às 15h e que devia estar com fome. A mãe corre esquentar a comida que sobrou do almoço: arroz, feijão e panqueca. Sem legumes.  – Me desculpa filha, mas hoje não dá tempo.

Senta a criança na cadeira, tira a comida do microondas – que cheira bem e deixa a mãe com mais fome ainda – oferece pra criança, que come a primeira colherada, faz uma cara de poucos amigos e recusa a segunda.

- Come filha, pelo menos um pouco, você deve estar com fome.
- Não, diz ela sem dizer, fazendo cara de nojo, batendo a mão na colher e espalhando carne moída pela cozinha toda.
- Ok, mamar você quer então? Diz a mãe sem saída, sem tempo e, porque não, sem muita paciência também.

A mãe prepara a mamadeira, leva até a sala, entrega a mamadeira e a filha pro marido. – Toma amor, preciso que você dê a mamadeira porque meu curso já vai começar.

 Já são 18:50

A mãe aproveita o momento de distração da filha, que mama com uma cara de quem diz: Ta bom, né, já que não tem outra opção mesmo (Fidamãe, comer ela não quis, né?), corre pro quarto lá do fundo, onde fica o desktop e se apressa pra atualizar o programa que grava o curso online.

19h. Começa o curso. 19:01. Começa a choradeira da filha lá na sala. – Mãmãmãããããããã!!

A mãe finge que não ouve. – Logo ela para. Ilusão, ela não vai parar.

O curso começa bem, todo mundo se apresenta, a mãe ta concentrada no que o professor fala.
Passam-se alguns minutos e, cansado de ver a filha resmungando sentada no cantinho da porta que dá acesso à cozinha (e ao quarto do fundo), o pai libera a passagem e lá vai a filha, feliz e contente, encontrar a mamãe. Papai se deita na beliche do quarto, liga a televisão e tenta assistir o jogo que passa.

- Olha filha, é o Corinthians! Deita aqui com o papai pra assistir o Corinthians jogar!
- Pffff. Nem pensar, diz a filha sem dizer, apenas virando-se para mexer em alguma coisa que não pode.

E assim caminha a humanidade o curso: uma pergunta ao professor ali, um “tira o dedo da tomada” lá, uma anotação aqui e outro “devolve o mouse da mamãe” acolá.

Passa das 20h. O professor do curso pede uma pausa pra tentar solucionar problemas com a conexão ou sei lá o que que travava a aula a todo instante. A mãe pega a filha, corre pro quarto, troca a fralda e, no meio do caminho, para pra tomar um copo d’água.

Voltamos pro computador. A mãe não resiste aos bracinhos esticados e à cara de gato de botas da filha e a pega no colo, sentando junto com ela na poltrona do computador. 10 segundos mais tarde, depois de um teclado avariado, uma quase-queda da tela do pc e de um frase sem sentido digitada no chat do curso (que felizmente não teve um “enter” no final), a mãe desiste da ideia e devolve a filha pro chão, enquanto o pai tenta, em vão, tirar um cochilo.

Mais alguns minutos se passam, são quase nove horas, o pai desiste de tentar cochilar, de tentar ver o jogo e de tentar manter a filha quieta, pega a cria e parte com ela rumo à sala novamente. Não sem antes dar um aviso, mais a si mesmo do que à filha:
- Eu vou levar você daqui, e se você começar a chorar, vai ficar lá esperneando que eu não vou te trazer de volta! Entendeu?
- A-ham, diz a filha, sem dizer, com um sorriso que a mãe juraria ser sarcástico, se a filha não tivesse apenas 1 ano, dois meses e alguns dias.

A mãe começa a contagem regressiva.
10... A filha sai tagarelando no colo do pai.
9... O pai fecha a porta da cozinha e senta com ela no sofá.
8... O professor do curso (sim, o curso ainda está rolando, teoricamente), volta a aparecer na tela, fala meia frase e some novamente. Todos xingam muito no twitter reclamam no chat.
7... A filha começa a chorar dramaticamente.
6... O pai diz alguma coisa como “pode chorar, daqui você não sai” e segue no sofá fingindo que ignora o “espetáculo”.
5... – Filha, por favor, a mamãe está ocupada e você não pode ficar lá agora. Logo ela volta.
4... – Toma amor, ela não vai  parar de chorar de jeito nenhum, diz o pai, devolvendo a filha ao quarto.
 3... Por decisão da empresa responsável, o curso é cancelado e reagendado para outra data, quando ele deverá funcionar decentemente.
2... – Pronto filha, você venceu. Mamãe não tem mais curso pra fazer.
1... A família segue feliz pra sala e a filha vai rindo e conversando como se nada de anormal tivesse acontecido.

São 21h10. A mãe chaga a conclusão de que bom mesmo é ser criança e esquecer as lágrimas com tamanha facilidade!

Finalmente a mãe tem tempo pra preparar um leite com bolachas e matar, em partes, a fome que já fazia a barriga roncar desde às 17h.

22h. A filha toma mais uma mamadeira, desliga-se a TV e todos vão se deitar, deixando a casa num silêncio difícil de imaginar poucas horas antes.

E é vida que segue...
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